segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Há dias nos quais o que vale é falar de amor
Os Amantes

Encheram profunda taça e envolveram-se em fervor.
Ficou-lhes na boca — presa ao crescente desejo
de mais beberem, de mais conhecerem — o sabor
da outra Vida maior, onde os levara o ensejo
de ultrapassarem a carne. Em solidão limitados,
num barco sem dia a dia, compromissos ou tratados,
singram velozes sem tempo, definidos pela estrela
que lhes indica, serena e nitidamente, o norte.


Encheram de novo a taça; incha mais a panda vela.
E para serem iguais, apenas lhes falta a Morte!

António Salvado, in "Difícil Passagem"

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo. Adoro o poeta António Salvado.

Anônimo disse...

QUEIMOR



Gozaram o prazer da união:

os corpos encontrados totalmente,

o esforço do suor os ligou tanto

que perdiam contornos juntos sempre.



Não tinha dimensão aquela posse

arfada de contínuo harta sem trégua

que para ser intemporal completa

apenas He faltava o az da morte.



Mas sucumbiram ao queimor do cárcere

sem porta que se abrisse devagar

e tolhidos na rede do cansaço

separados os corpos deslembraram-se.





De Afloramentos, 2007


António Salvado